No dia dos amantes tudo era cor. Os corações alegres, sem seus antidepressivos, ardiam, como se não necessitasse de drogas ou pior, de religião.
Suas mentes se aquietavam como se fossem corpos cansados de sexo.
O ar era leve. A brisa de paz.
Não havia nos jornais páginas policiais.
Não se comercializava as emoções. Era como, se só existisse aquele dia ensolarado e florido.
As mulheres faziam cirandas, tudo era livre como o vento nos cabelos.
Ninguém precisava correr. O tempo era o instante exato do agora.
Como beijo molhado e gostoso, ia passando o dia.
Era fresco, mas tropical. Podia se escolher entre samba ou rock, se praia ou cachoeira.
O banquete era público. A fome não doía. A violência não gritava.
Nas ruas passeavam os casais, inúmeros, variados, singulares. Desfilavam em trios, quartetos, turmas e duplas.
Lindos! Amados, satisfeitos.
Sentia-se o desejo pulsando, mas não havia ansiedade, pois era um desejo de gozo certo, contido apenas por prazer, astúcia.
No dia dos Amantes, a noite era uma criança e todas elas tinham casa, escola, proteção.
Decidia-se no congresso que não precisávamos mais de leis e as gentilezas se multiplicavam.
As pessoas se distribuíam pela terra, agora respeitada como mãe prodigiosa.
Os bichos não morriam no zoológico e as pessoas não se alimentavam de suas mortes.
A voracidade compulsiva consumista cedia ao equilíbrio do socialmente justo e necessário.
Sabíamos cuidar de nossos dejetos e não se abjetavam pessoas.
Não havia excluídos, nem dominados. Cooperava-se. A resposta era Sim!
No dia dos amantes, as consciências estavam prontas, todos sabiam o que fazer. Era fácil, intuitivo, natural.
Não existiam grupos de extermínio, nem racismo, nem fascismo. Os Direitos Humanos era lógico, óbvio, salutar. Ninguém jamais ameaçaria seu amor.
A verdade era a regra, as memórias lembravam o tempo nebuloso onde as pessoas gastavam sua libido com trabalhos estéreis, inócuos, que enriqueciam devoradores de sonhos.
Amados, amáveis, amantes. Todos eram plenos.
Calientes as pessoas giravam a bola do mundo. Eram felizes, sendo! Vivendo, querendo.
A canção era do Chico o arranjo de Jobim, a arte era talento de todos, trabalho digno dos melhores.
O amor nos tornava divinos, heróis, místicos. Não se desprezavam os velhos, a vida era respeitada em suas fases. Não temíamos a morte, pois que era apenas o por do sol anunciando a transformação do céu em estrelas.
No dia dos amantes... tudo era Eros, Afrodite, Cupido.
SEI QUE ELE HÁ DE CHEGAR, posso senti-lo vindo no horizonte. Com a força dos que lutam, dos que sonham e dos que desejam. Não será possível detê-lo. Não haverá lobby viável, nem dinheiro comprável, a repressão não terá força.
Delicado, diplomático, engenhoso. Vira em horda, em movimento de convergência. Refará as tribos, condensará as energias.
Ninguém mais sentirá culpa, as famílias serão arranjos do cuidado e da segurança. Não serão montagens neuróticas, nem vitrines de consumo.
Mas, enquanto não chega o dia dos amantes, vamos criando, gerando, comungando o Amor.
Até lá, só há uma coisa a se fazer. Uma única ação em todo cosmo para se derrotar Thanatos: Alimentar a energia da maior força que existe.
Assim, até que todos os dias sejam dias dos amantes, vamos brincando de amor pra fazer a revolução, até construirmos a revolução pra todos brincarem de amor.
Kelly Cristina Gonçalves é incorrigível Amante.
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